Ao taxar em 25% iPhones fabricados fora dos EUA, Trump desafia a Apple, ataca a globalização e inaugura uma nova era de conflitos comerciais — agora travados com tecnologia e discursos inflamados

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Por John Lima
O presidente Donald Trump não está apenas governando — está redesenhando a ordem comercial global com a audácia de quem não teme nem o próprio mercado. Ao anunciar uma tarifa de 25% sobre todo iPhone fabricado fora dos EUA, Trump dispara a primeira bala de uma nova guerra fria, desta vez travada com chips, aço, inteligência artificial e nacionalismo industrial.
A retórica “America First” nunca saiu do palanque — só ganhou músculos, agora que ele está novamente sentado no Salão Oval. A diferença é que, em seu segundo mandato, Trump está mais agressivo, menos diplomático e decidido a remodelar as cadeias produtivas globais na base da força tarifária.
A Apple, símbolo máximo do capitalismo moderno, será o grande termômetro dessa nova era. Se até a empresa mais valiosa do planeta pode ser forçada a se reindustrializar nos EUA, quem está a salvo? Os efeitos práticos serão profundos: aumento de preços, escassez de modelos importados e — o que talvez mais preocupe — um efeito dominó nos acordos internacionais.
A União Europeia também entra no fogo cruzado, com tarifas ampliadas a partir de 1º de junho. O recado é claro: Trump quer que o Ocidente produza para os americanos, dentro da América. Mas o que ele oferece em troca? Nenhuma política industrial robusta, nenhum plano ecológico, nenhum incentivo à mão de obra qualificada. Apenas tarifa, intimidação e ruído diplomático.
É aí que mora o perigo. Não há como resolver desequilíbrios comerciais reais com medidas teatrais. Penalizar o consumidor americano com produtos mais caros, ou atacar alianças históricas com parceiros europeus, pode custar muito mais caro do que alguns bilhões em déficit comercial.
E o Brasil? Estamos na encruzilhada. Produzimos iPhones para a Apple e exportamos para os EUA — mas também somos vulneráveis. Qual será a próxima tarifa de Trump? Grãos, carne, aço, semicondutores?
Enquanto o mundo se prepara para o 6G, Trump volta ao discurso da década de 1950, onde tudo se resolve com tarifa, soberania e bandeira hasteada no quintal. A globalização nunca esteve tão ameaçada. E, dessa vez, o inimigo não é a China. É o próprio Ocidente se sabotando em nome do populismo high-tech.
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